De natureza intercultural, a Capoeira Angola, tal como a conhecemos, surgiu no Brasil levada pelos africanos que, escravizados, tiveram de se organizar individual, social e culturalmente para conquistar sua liberdade. Tribos que tinham sido inimigas, ou não se conheciam, ou sequer falavam o mesmo dialeto tiveram de se integrar no novo mundo para fazer frente à opressora realidade da escravidão. Assim foi como a cultura africana se formou no Brasil, disfarçando suas manifestações e rituais. Utilizando a língua portuguesa e aprendendo com os índios no Brasil, os africanos conseguiram não só manter viva a essência de sua terra natal, mas também enriquecê-la e criar a cultura hoje conhecida como afro-brasileira.
A musicalidade da Capoeira Angola consiste em cantigas e toques de percussão próprios, cheios de significado para aqueles que participam da roda.
Cada toque, cada cantiga quer dizer algo aos participantes, especialmente para os que estão jogando.
A bateria da Capoeira Angola se compõe de três berimbaus – com diferentes tonalidades, cada um com sua função específica na roda -, dois pandeiros, um agogô, um reco-reco e um atabaque.
É na roda de capoeira onde esses elementos adquirem vida. Difícil de classificar, uma roda é um acontecimento em si, onde estão presentes, de um lado, a essência dos rituais africanos, e de outro, a teatralidade e a energia da cultura afro-brasileira. A roda consiste em um semicírculo formado por participantes sentados, ou de pé, e pela bateria. Enquanto os que estão na bateria tocam e cantam, os que estão no círculo respondem em coro.
Duas pessoas jogam dentro do círculo. Os jogadores e tocadores se revezam durante a roda. A duração da roda é relativa, e normalmente todos os participantes jogam, tocam e cantam.
“Angola, capoeira-mãe!
Mandinga de escravo em ânsia de liberdade;Seu princípio não tem método;
seu fim é inconcebível ao mais sábio capoeirista.”Mestre Pastinha.
A capoeira-mãe continua íntegra em pleno século XXI graças à dedicação de seus grandes mestres, como Mestre Pastinha (Vicente Ferreira Pastinha, 1889 – 1981), o grande guardião de seus fundamentos.
Mestre Pastinha foi o filósofo e poeta da Capoeira Angola. Também foi o fundador do Centro Esportivo de Capoeira Angola, criado em 1941 para manter viva a sua tradição em uma época em que a capoeira corria o risco de ser descaracterizada.
Atualmente, todos os grupos de Capoeira Angola lembram o Mestre Pastinha, que continua vivo na memória dos capoeiristas.